JC e-mail 2734, de 28
de Março de 2005
Eu, tatu – Estudo mostra que seres humanos já
são o principal agente causador de erosão na superfície da Terra
Tecnógeno
Claudio Ângelo, editor de Ciência, escreve para
o caderno ‘Mais!’ da ‘Folha de SP’:
A
humanidade está removendo o solo a uma taxa muito mais alta do que a erosão
natural das rochas é capaz de criá-lo.
Uma
das principais forças geológicas da Terra muda a cara do planeta com uma
dimensão e uma velocidade impressionantes. Ela move, todos os anos, uma
quantidade de rochas e solo equivalentes a duas vezes o volume do monte Fuji,
no Japão.
Um
volume de sedimentos que, se contados os últimos cinco milênios, bastaria para
construir uma cadeia de montanhas de 4 km de altura, 40 de largura e 100 de comprimento.
Dez vezes mais poderosa do que todos os rios e geleiras, a cada milhão de anos
essa força seria capaz de rebaixar os continentes 360 metros . Trata-se da
humanidade.
Nos
últimos dez mil anos, após a invenção da agricultura, a erosão causada pelos
cultivos e a quantidade de solo e rochas revolvidos pela construção de cidades,
minas, usinas energéticas e estradas fizeram dos seres humanos um dos
principais agentes a esculpir o planeta – só perdem para a dança das placas
tectônicas.
Nenhum outro processo natural conhecido é tão veloz, nem tão potencialmente perigoso.
‘Temos de alimentar um número cada vez maior de pessoas numa parcela fixa de terras aráveis. Os meus números simplesmente mostram que não só a área é fixa como nós a estamos submetendo a uma erosão que não é natural. Tempos duros vêm aí’, diz o geólogo Bruce Wilkinson, da Universidade do Michiganem Ann Arbor , EUA.
Nenhum outro processo natural conhecido é tão veloz, nem tão potencialmente perigoso.
‘Temos de alimentar um número cada vez maior de pessoas numa parcela fixa de terras aráveis. Os meus números simplesmente mostram que não só a área é fixa como nós a estamos submetendo a uma erosão que não é natural. Tempos duros vêm aí’, diz o geólogo Bruce Wilkinson, da Universidade do Michigan
Os
números a que Wilkinson se refere são dados de um estudo publicado por ele na
edição deste mês do periódico científico ‘Geology’. O trabalho é o primeiro a
quantificar o papel dos humanos como agentes geológicos, comparando-os a forças
naturais, como ventos, rios e geleiras -principais transportadores de sedimento
para o oceano. O cientista usou dados de diversos estudos anteriores para
quantificar o reservatório de rochas sedimentares do planeta.
Rochas
sedimentares, como arenitos, são produzidas pelo acúmulo de sedimentos (daí o
nome) ao longo do tempo geológico. Ele calculou o volume total que sobrevive na
forma de crosta continental ou oceânica e mediu também a taxa de criação e
reciclagem dessas rochas. Então, aplicou dados da taxa ‘antropogênica’ de
erosão ao total. A partir do final do primeiro milênio da Era Cristã, diz o
pesquisador, o homem ultrapassou a natureza.
Wilkinson
calculou que, ao longo dos últimos 540 milhões de anos, forças naturais de
erosão moveram sedimentos a uma taxa capaz de rebaixar a superfície terrestre
em 30 metros
a cada milhão de anos.
‘Em comparação, atividades agrícolas e de construção transportam sedimento o suficiente para rebaixar as superfícies continentais livres de gelo algumas centenas de metros por milhão de anos’, escreve o cientista.
Buracos Pré Históricos
‘Em comparação, atividades agrícolas e de construção transportam sedimento o suficiente para rebaixar as superfícies continentais livres de gelo algumas centenas de metros por milhão de anos’, escreve o cientista.
Buracos Pré Históricos
Wilkinson,
um sedimentologista de 62 anos, conta que se inspirou a fazer sua pesquisa após
ler um artigo do colega Roger Hooke, da Universidade do Maine (também nos EUA),
sobre a história dos seres humanos como agentes geomórficos. Segundo Hooke, os
humanos começaram a alterar o relevo do planeta há 400 mil anos, quando o Homo
erectus passou a mover pedras de um lado para o outro em suas construções
rudimentares.
A descoberta de que os melhores artefatos de pedra eram feitos de sílex provocou o início da atividade mineira -com buracos de até10 m de extensão. A partir
daí, a taxa só cresceu.
Hoje, a erosão ‘per capita’ mundial é de cerca de 6 toneladas ao ano. A dos norte-americanos é de 30 toneladas. ‘Eu não me interesso mais por pesquisa normal’, conta Wilkinson. ‘Há mais de 20 anos tenho brincado com questões que se relacionam às mudanças no estoque de rochas sedimentares do planeta. Quando vi o estudo de Hooke, eu disse: ‘Bem, Bruce, acho que você você pode dizer às pessoas o quão importantes os seres humanos são’. Para os geólogos do futuro, a erosão acelerada causada pela humanidade terá provavelmente um efeito curioso: o de aumentar a quantidade de rochas sedimentares no planeta. A erosão causada pelos humanos, por enquanto, não está depositando sedimentos no oceano – principal local de formação desse tipo de rocha. Mas, um dia, todo esse material vai parar na água.
‘Esse aumento, no entanto, terá vida curta, em termos geológicos’, explica o cientista americano. Segundo Wilkinson, hoje a humanidade está removendo o solo a uma taxa muito mais alta do que a erosão natural das rochas é capaz de criá-lo. À medida que esse desequilíbrio continua, haverá menos e menos solo perdido das terras aráveis, porque todo ele terá sido removido pela erosão’, afirma. ‘Quando esse estado for alcançado, o suprimento ao reservatório sedimentar deverá diminuir, porque teremos removido todo o solo dos leitos rochosos.’ Menos engraçado é o que isso significa num planeta com cada vez mais bocas para alimentar e com gente mais rica demandando mais calorias e proteínas.
A descoberta de que os melhores artefatos de pedra eram feitos de sílex provocou o início da atividade mineira -com buracos de até
Hoje, a erosão ‘per capita’ mundial é de cerca de 6 toneladas ao ano. A dos norte-americanos é de 30 toneladas. ‘Eu não me interesso mais por pesquisa normal’, conta Wilkinson. ‘Há mais de 20 anos tenho brincado com questões que se relacionam às mudanças no estoque de rochas sedimentares do planeta. Quando vi o estudo de Hooke, eu disse: ‘Bem, Bruce, acho que você você pode dizer às pessoas o quão importantes os seres humanos são’. Para os geólogos do futuro, a erosão acelerada causada pela humanidade terá provavelmente um efeito curioso: o de aumentar a quantidade de rochas sedimentares no planeta. A erosão causada pelos humanos, por enquanto, não está depositando sedimentos no oceano – principal local de formação desse tipo de rocha. Mas, um dia, todo esse material vai parar na água.
‘Esse aumento, no entanto, terá vida curta, em termos geológicos’, explica o cientista americano. Segundo Wilkinson, hoje a humanidade está removendo o solo a uma taxa muito mais alta do que a erosão natural das rochas é capaz de criá-lo. À medida que esse desequilíbrio continua, haverá menos e menos solo perdido das terras aráveis, porque todo ele terá sido removido pela erosão’, afirma. ‘Quando esse estado for alcançado, o suprimento ao reservatório sedimentar deverá diminuir, porque teremos removido todo o solo dos leitos rochosos.’ Menos engraçado é o que isso significa num planeta com cada vez mais bocas para alimentar e com gente mais rica demandando mais calorias e proteínas.
Uma
vez que a quantidade de terras agricultáveis permanece fixa em cerca de 40% da
superfície terrestre, a agricultura terá de ser mais intensa. ‘Vamos precisar
ser muito mais espertos com conservação de solo’, diz Wilkinson. ‘Mas isso não
é realmente um problema geológico.’